quinta-feira, 28 de abril de 2011

SAIBA MAS SOBRE OS FILHOS DE WOLVERINE...

Escrito por Vini
Recentemente a Marvel vem publicando uma série na qual os protagonistas possuem garras afiadas, muito sangue nos olhos e partilham de parte do DNA do baixinho mais invocado da “Casa das Ideias”. Sim, estou falando dos “filhotes” de Wolverine: Daken e sua versão feminina, a garota denominada X-23.
Escrita por Marjorie Liu (X-23) e Daniel Way (Deadpool e Astonishing X-Men), o arco “Colisão” mostra um embate entre os dois personagens em Madripoor. O filho do Wolverine planeja agora conquistar o espaço outrora ocupado pelo seu pai na época em que este era conhecido como Caolho e dominava o submundo do crime na ilha e ainda lutava contra as hordas de sua ex-esposa Víbora.
A capa da edição que trás o prelúdio do arco, aliás, Daken: Dark Wolverine nº 7, faz uma menção direta à primeira edição da série mensal de Logan lançada nos EUA em 1988 (no Brasil, Wolverine nº 2,editora Abril, 1992), uma clássica capa daquela fase da vida do mutante canadense. Na capa atual vemos Daken em cima de uma pilha de corpos de inimigos, entre eles Sanguinário e Baderna, vilões que atormentavam Wolverine naquela época.

A trama será essa: Daken como o novo “bad-ass” do pedaço, dominando tudo como o intocável rei do submundo e o papel de X-23 na série é, com certeza, atrapalhar os planos do “irmão” fazendo oposição ao seu domínio. O arco terá um prelúdio em Daken: Dark Wolverine nº 7, lançado nos EUA em março, e se estenderá por 4 capítulos através das séries Daken: Dark Wolverine e X-23.
“Colisão” será desenhada pelos artistas Marco Chechetto e Stegman Ryan e promete mudar o futuro da prole de Wolverine. Apesar de, na verdade, X-23 ser um clone de Wolverine, Logan considera Laura como sendo sua filha e esse momento é até mostrado na 2ª edição da série da guria com garras de vibranium. E esse modelo de relacionamento entre os dois certamente será utilizado, apesar dos contratempos mostrados no arco “Wolverine Goes to Hell”. A escritora Liu pensa em explorar mais essa relação com Wolverine tendo o dobro de cuidado com sua filha em relação a sua sidekick Jubileu.
Espero que a série chegue por aqui. Parece-me que a história é bem feita e qualquer coisa que mude um pouco o status quo desses dois personagens merece ser analisado. Sempre achei uma grande besteira não a criação destes personagens, mas sim a editora continuar a desenvolvê-los em sua linha normal de revistas.
Na minha opinião, esse tipo de personagem funciona bem apenas em minisséries sem maiores pretensões. Até porque duas coisas incomodam a mim e tenho certeza, não só outros leitores como os próprios desenhistas que trabalham com esses personagens, as garras “estrategicamente” mal elaboradas que criaram para os dois. Pra quem não sabe, Daken possui uma garra que sai do pulso e X-23 uma garra que sai entre os dedos do pé. Percebi que muitos desenhistas já aboliram esses recursos de seus desenhos.

Outra coisa que incomoda é que “bundalizaram” tanto o Wolverine que agora, seu filho Daken é que é o sociopata que pode ser um assassino frio e impiedoso.
O ponto positivo da série é que mudaram de forma bastante positiva o uniforme dele. É um misto do clássico uniforme do pai com elementos ninjas. Talvez esse distanciamento de imagem, que estão recentemente apresentando, possa ajudar a remodelar o personagem e tentar definitivamente posicioná-lo melhor no Universo Marvel.

ANA LUIZA KOEHLER UM TESOURO .....

Ana Luiza Koehler é um tesouro inexplorado do quadrinho nacional. Por quê? É uma desenhista brasileira que trabalha para o mercado europeu e desfruta de um reconhecimento diferente daquele do de artistas nacionais que se destacam no mercado estadunidense, fazendo com que ela não seja tão conhecida pelo grande público. E isso é um enorme pecado.
 Entrevista exclusiva com essa gaúcha de Porto Alegre que é não somente talentosa como extremamente simpática e que nos brindou com sua experiência no mercado europeu através de um papo bem gostoso.
Shazam: Quem é Ana Luiza Koehler?
Ana Luiza: Uma pessoa privilegiada.
Shazam: Quais são suas influências? Detalhes de que outros artistas contribuíram para seu trabalho?
Ana Luiza: O americano George Pérez é sem dúvida o artista que mais me influenciou, pois quando criança lia as histórias dos Novos Titãs desenhadas por ele e fiquei apaixonada pelo estilo. Depois, o traço do John Byrne nos gibis da Marvel e da DC me conquistou também, mas a grande influência é sem dúvida do sr. Pérez.
Shazam: O que pode falar sobre as características de seu estilo? Que tipo de história se encaixa mais? Seu estilo já a prejudicou de alguma maneira?
Ana Luiza: Não saberia definir o meu estilo, é apenas o que aparece no papel quando procuro dar o melhor de mim. Creio ele se presta mais aos roteiros de temática histórica pois o desenvolvi já baseada numa extensa pesquisa de detalhes arquitetônicos, vestimentas, etc. e pretendo continuar nesta vertente. Houve críticas ao meu traço quando do lançamento do primeiro tomo da série Awrah pois alguns o acharam um tanto “démodé”, “antigo”, mas houve quem escrevesse que esse “jeito de ilustração de livro de história dos anos 50” dava um charme ao álbum…
Shazam: E como leitora? Quais são suas HQs preferidas?
Ana Luiza: Hoje em dia quase não leio HQs, pois para mim tornou-se um trabalho e na hora de relaxar prefiro livros sobre História ou romances com um bom enredo. Gosto muito, porém, da série O Gato do Rabino, de Joann Sfar, Murena da dupla Dufaux-Delaby, Vasco, de Gilles Chaillet e uma série sensacional passada na 2ª Guerra chamada Les amours fragiles da dupla Beuriot-Richelle.
Shazam: Quais materiais são os materiais usados por você? Pode especificar detalhes?
Ana Luiza: Os materiais que uso são extremamente simples e acessíveis: papel sulfite 240g, muitas folhas de rascunho, uma lapiseira 0.7 com grafite azul para os esboços e outra 0.9 com grafite preto para a arte-final. Eu faço os storyboards em folhas de rascunho e depois de aprovados passo o desenho para a folha A3, fazendo todos os esboços com grafite azul. Depois faço o traço definitivo com grafite preto e escaneio. No Photoshop, apago a cor azul que resta e “limpo” a página, deixando-a pronta para o letreiramento.
Shazam: Você trabalha para o mercado europeu. Quais são as HQs que você fez? Quem foram seus parceiros em cada trabalho? Fale um pouco de cada trabalho e cada profissional com que já trabalhou por lá.
Ana Luiza: Por enquanto publiquei os dois tomos da série Awrah (pronuncia-se “avra” e é uma palavra árabe que significa “aquilo que deve ser ocultado”), cujo roteiro foi escrito pelos belgas Fuat Erkol e Christian Simon, e tenho outro álbum em preparação neste ano. O trabalho com os roteirista de Awrah foi realmente excelente, felizmente tivemos muita afinidade nos nossos modos de trabalho e na técnica narrativa, e eles sempre me permitiam fazer sugestões a respeito do roteiro. Além disso, são profissionais extremamente sérios e éticos, coisa que nem sempre se encontra trabalhando a distância, e sempre defenderam meus interesses como desenhista ainda que eu não estivesse presente nas negociações editoriais. Eu tenho uma sorte imensa de poder ter iniciado minha carreira lá fora com eles.
Shazam: Como você se sente sendo uma mulher que, até anos atrás, era uma mídia de predominância masculina?
Ana Luiza: Ainda é uma mídia de predominância masculina, tanto no número de profissionais quanto no tipo de abordagem das obras. Ser mulher neste meio me leva a questionar bastante o uso da própria imagem do corpo da mulher como chamariz de vendas em páginas, capas, etc. Creio que, com a chegada de cada vez mais mulheres a este campo, teremos uma diversidade de linguagem e tratamento nas HQs também, o que é muito positivo.
Shazam: Como você analisa o passado e o presente do mercado europeu em todos os seus aspectos? E qual é a sua ideia de como ficará o mercado em seu futuro próximo?
Ana Luiza: Eu não conheço o bastante a realidade do mercado europeu de anos atrás, antes da crise econômica de 2008, mas posso dizer que, após falar com vários colegas de lá, as coisas estão mudando muito rapidamente e ficando mais dinâmicas. A quantidade de títulos cresceu dramaticamente e a procura desenfreada por novos projetos a lançar leva muitas vezes os editores a apostar em obras sem necessariamente verificar a sua qualidade ou o profissionalismo de seus autores. Também as vendas por título caíram bastante em função desta multiplicação de publicações e desta maneira os autores não chegam a ver seus álbuns venderem o suficiente para reportar-lhes o percentual em direitos autorais garantido por contrato.
Creio que as mídias digitais já estão mudando as relações autor-editor e a forma como a criação de um álbum de HQ é monetarizada para pagar os autores e o editor. De uma maneira geral, há uma grande discussão a respeito da mudança de cláusulas contratuais do mercado editorial em função da crescente publicação de livros de modo online, e a internet é também um poderoso instrumento dos autores para fazer seu trabalho conhecido e eventualmente publicado. Penso que transformações profundas estão em curso e creio que haverá mudanças que beneficiarão os autores.
Shazam: Como os europeus estão lidando com a questão dos scans? Qual é a movimentação das editoras quanto a essa questão?
Ana Luiza: Como em todo o mundo, os scans de HQs se multiplicam também no âmbito europeu, e há algumas poucas editoras que estão procurando responder a essa perda de controle disponibilizando HQs de maneira integral em seus sites mediante o pagamento de uma assinatura mensal ou até gratuitamente, mas não conheço em profundidade os seus modelos de negócio. Pelo que tenho acompanhado, os editores estão procurando reagir à difusão dos scans através da normatização contratual da difusão digital de suas obras publicadas, o que aparentemente tem sido questionado pelos autores por estar sendo feito de modo unilateral…
Shazam: Como se dá o processo de aceitar um projeto com os europeus? Você tem um agente ou lida direto com eles? Quais são os critérios para você pegar um trabalho? Como funciona?
Ana Luiza: Felizmente, no mercado franco-belga contrata um projeto mediante a apresentação de um dossiê do mesmo (breve apresentação contendo uma sinopse da história, algumas páginas de roteiro, 4 ou mais páginas da HQ desenhadas, desenhos de personagens, etc.), o que permite ao editor avaliar o potencial de venda do álbum proposto. Uma vez fechado o contrato, o editor financia a produção do álbum, remunerando desenhista, colorista e roteirista por página entregue. É um sistema mais adequado e que viabiliza uma produção significativa de quadrinhos, e torço para que se torne corrente o mais breve possível no Brasil também.
Não trabalho com agente, lido diretamente com os editores e outros profissionais envolvidos no projeto. Os critérios que me decidem a pegar um projeto são basicamente a adequação da história proposta ao meu traço, a remuneração proposta pelo editor e, é claro, os prazos e disponibilidade de tempo.
Shazam: Com quem ainda não trabalhou mas gostaria de trabalhar entre os europeus?
Ana Luiza: Como desenhista, creio que, além de um traço profissional, há que se entender a língua francesa. Parte significativa do meu trabalho é receber páginas de roteiro com extensas descrições de cenas, diálogos, personagens, etc. e transformar isso tudo em imagens. Há também as negociações com o editor, o colorista, e a discussão de idéias com os roteiristas, assim, não imagino alguém poder trabalhar nesse mercado sem ter como se comunicar efetivamente.
Shazam: Os profissionais europeus lêem alguma coisa de quadrinhos brasileiros? Já rolou alguma conversa sobre esse assunto com eles?
Ana Luiza: Há autores brasileiros que estão começando a publicar lá, e creio que há muita curiosidade por parte dos europeus a respeito dos trabalhos brasileiros. Infelizmente, e até por causa da barreira lingüística, creio que a grande maioria das HQs produzidas aqui no Brasil dificilmente chegam ao público do exterior. Felizmente, aí entra a internet como grande instrumento de difusão e acessibilidade do público do exterior para as HQs brasileiras.
Shazam: Qual é a receptividade do mercado europeu para cada profissional de HQ brasileiro? Digo, desenhistas, roteiristas, arte-finalistas, etc.
Ana Luiza: Há profissionais de praticamente o mundo inteiro trabalhando no mercado europeu, os critérios decisivos são a qualidade do trabalho e a possibilidade de se comunicar (seja por si mesmo ou através de um intérprete). O profissional brasileiro que tiver um trabalho de qualidade realmente profissional poderá oferecer seus serviços ao mercado europeu.
Shazam: Como você vê o mercado brasileiro ontem e hoje? E qual é sua perspectiva para ele?
Ana Luiza: Infelizmente, o mercado brasileiro é refém dos preços exorbitantes dos livros, sejam eles de prosa, técnicos ou de quadrinhos. Isso desencoraja muito a leitura, torna-a um luxo para poucos, e o mercado editorial parece se refugiar nessa estreita faixa dos que podem pagar R$ 80,00 reais por um livro. Naturalmente, as publicações de quadrinhos não escapam a essa realidade. Precisamos de livros a preços acessíveis para poder gerar um grande público leitor, e aí veremos também o crescimento do consumo dos quadrinhos produzidos aqui. A experiência que tenho é de que grande parte das editoras ainda aplica à publicação de quadrinhos o mesmo modelo de publicação de uma obra em prosa: o autor entrega o material a ser publicado e ganha uma porcentagem sobre o preço de capa da obra vendida. Isso é um grande problema na minha opinião, pois a falta de financiamento para a produção da obra impede que os autores que queiram se dedicar aos quadrinhos possa fazê-lo tendo como meta o mercado nacional. Creio que está na hora dos editores se engajarem e assumir os mesmos riscos que os autores na produção e posterior publicação de uma obra em quadrinhos.
Shazam: Naturalmente, você já deve ter pensado em fazer algum projeto nacional. Há a possibilidade de ocorrer? Quais seriam os fatores a favor e quais seriam os impedimentos? Tem alguém com quem gostaria de trabalhar por aqui?
Ana Luiza: Sim, tenho muitas ideias que gostaria de colocar em prática para um projeto nacional. Temos muitos, mas muitos temas interessantes do nosso país que estão somente à espera de uma boa equipe para serem produzidos com boa qualidade e comercializados tanto aqui como no exterior, mas que esbarram na falta de recursos que financiem a sua produção.
De minha parte, ainda teria de esperar algum tempo para fazer algo com temática brasileira, pois já tenho outros projetos na agenda, e também gostaria de poder encontrar um meio de viabilizá-lo financeiramente.
Quanto às parcerias, quero muito encontrar coloristas cujo trabalho se adequasse ao meu traço e com quem pudesse trabalhar regularmente nos projetos para fora.
Shazam: Pode nos contar detalhes de seus próximos trabalhos?
Ana Luiza: Estou trabalhando numa série histórica chamada Carthage, pelas Éditions Soleil, e como o nome sugere narra a epopéia das Guerras Púnicas (ca. 200 a.C) travadas entre os fenícios de Cartago (hoje na região da Tunísia) e Roma. O roteiro é assinado pelos franceses Fabrice David e Grégory Lassablière, já com bastante experiência em HQs históricas.





Quem quiser conhecer mais o trabalho dessa fera, eis seu site oficial.
Entrevista realizada por Shazam!.