quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Ao morto,todas as honras...e nenhuma atenção!

Tirei esta postagem do blog: Angel Blog.
 
Velório é uma cerimônia fúnebre em que o caixão do falecido é posto em exposição pública para permitir que parentes, amigos e outros interessados possam honrar a memória do defunto antes do sepultamento.

Foi isto o que encontrei quando procurei a definição da palavra Velório.
Honrar a memória inclui contar piadas e fazer fofocas?

Não sou adepta de certas formalidades, de certas obrigações sociais. Pelo contrário, fujo delas sempre que posso e quanto a ir a um velório, sempre pude, até três dias atrás.

Não tenho nada contra, nem medo, nem nada, só acho besteira esse encontro que poderia ter acontecido quando ainda todos estavam vivos e bem.
Como dizem, fiquei passada.

Era noite, me preparei para a cerimônia, já pronta pra chegar no local e rezar pelo morto, afinal, nunca participei ativamente de um velório, mas em minha cabeça, quando se vai lá, dever-se-ia fazer preces e silêncio.

Qual não foi minha surpresa quando ao chegar, fui recebida com certa alegria. Ninguém chorava, ninguém rezava, ninguém velava o morto.
O conversê era geral.

Ocupei um lugar próximo à viúva, pois me pareceu mais oportuno e menos barulhento. Ledo engano. A conversa também corria solta e o que é pior, com cheiro de cana.

Num dado momento, a conversa se voltou pro meu lado e pro lado do meu marido. Uma senhora, que não posso dizer distinta, puxou uma conversa com meu marido e, eu que me encontrava desafortunadamente entre eles, recebi todo o bafo de cachaça possível numa madrugada fúnebre.

Um outro interessado, que se sentava do outro lado da sala, passava pelo mesmo infortúnio. Pois ele tentava prestar atenção na conversa do marido desta senhora não tão distinta assim, mas que parecia ter entornado mais que a própria.

Meu estômago revirava, afinal, quatro da manhã e eu não tinha me preparado pra esta tragédia. Arrumei uma desculpa e deixei meu marido a sós com a tal senhora. Fui respirar um pouco e me sentei perto de outros membros da família.

E parentes continuam chegando.
Resolvi tentar entender aquele circo.

Chega uma moça, que não reconhece seu primo e passa sem ao menos dizer boa noite. Apenas balançou a cabeça com um sorriso amarelo. Seu irmão, que parecia mais antenado, cumprimentou a todos os que conhecia e aos que não tinha muita certeza de conhecer. Mas, cumpriu o protocolo da boa educação.

E entra outro primo que também cumprimenta um, pula outro e assim vai, cumprimentando que lhe desse na telha.

Eu ali era um peixe fora d’água. As vezes que tentei fazer uma oração, fui interrompida com alguma gracinha ou piada. E o pior... tinha de rir, pois eram procedentes de membros da família do morto.

E as horas passavam, numa velocidade de tartaruga.

As piadas não acabavamm e quando percebi, já eram contadas por alguém que se colocou ao lado do caixão, numa distância aproximada do ouvido do morto, de 30 cm.

No local havia uma capela, com as portas fechadas. Afinal, já tinha dado pra perceber que se estivesse aberta, provavelmente, ninguém entraria ali, afinal, uma capela pede silêncio.

Ouvi da viúva que agora poderia passear e aproveitar mais a vida.
Nisso o dia já dava sinais de vida e o casal da cana, que eu nem vi sair, já voltava e ele conseguiu um bar aberto e voltava totalmente alegre e retumbante. Outros reclamavam do café, que estava muito doce.

A prima que não reconheceu o primo, volta e se desculpa. Aproveita depois pra ficar por perto e rindo muito. A mãe dela diz que a filha quando fica nevosa ri sem parar. Nervosa com que? Porque perdeu o tio? Nem ao menos reconheceu o primo, meu Deus!

Fui respirar em casa, tomar um café e voltar pro tal velório, que, no retorno, já estava bem mais divertido e interessante. Aí já se via crianças (acho um extremo mal gosto levar crianças e estes eventos) correndo e colocando moedas na máquina de refrigerantes e de salgadinhos.

Nenhuma prece, nenhum choro... NADA. Nada que indicasse que alguém estava ali pra homenagear o morto ou honrar sua memória.

Chegam outros primos, que preferiram dormir um pouco mais, afinal, num domingo, levantar cedo ou passar a noite ali, ninguém merece...

E mais uma prima que não cumprimenta ninguém. E um primo estranho, com cara de sono, que mais parecia ter saído de um filme de terror.
O riso já não era contido.

E eu, que tinha um conceito formado sobre um velório, vi que preciso me inteirar mais dessas reuniões, afinal, poderia esta pagando um mico por achar que ali fosse um lugar sério e que o silêncio, o respeito e a prece fossem necessários.
Que triste!

Quanta pobreza de espírito!
Enfim, pouco antes do sepultamento, um Senhor tomou a frente e resolveu fazer uma oração.

Aí, corre daqui, corre de lá, juntam-se filhos, netos e afins para participarem do ato solene. Juntam-se todos em volta do caixão e, finalmente, a viúva deixa cair alguma lágrimas.

Tudo acabado.
Segue-se até o cemitério, também chamado de “a última morada” por alguns. Enterra-se o corpo com certa pressa, afinal, um sol dos infernos queimava os miolos já amolecidos dos que ali se encontravam, loucos pra que tudo terminasse e, finalmente, irem pra casa aproveitar o almoço e a tarde de um típico domingo de primavera com cara de verão.

Conclusão?
Acho que peguei o bonde errado.
Acho que entendi a frase de uma música do Silvio Brito... “PAREM O MUNDO QUE EU QUERO DESCER”!!!

E foi assim.

Ah! Uma das pessoas que nem ao menos percebeu a minha presença, que passou por mim como se eu não existisse, no outro dia me pediu pra adicioná-la no Orkut...

Pelo tanto que escrevi, talvez poucas pessoas tenham paciência para chegar até o fim.

As poucas que conseguirem, vão se perguntar o porquê desta postagem.
Só posso dizer que foi mais uma experiência que mostrou que o ser humano está muito longe do aceitável e que, como dizia o personagem Gilmar da novela "Escrito nas Estrelas": Humanidade Podre!
 
(Pra mim isto é pura verdade,aconteceu no velorio do meu pai e em outros...)